Açores: casa das duas únicas plantações de chá da Europa
Culturas únicas e exóticas têm prosperado nas ilhas dos Açores, não fosse a extrema fertilidade dos solos vulcânicos e a entrega de quem à terra se dedica. Na costa norte da Ilha de São Miguel, a maior das nove, encontra as duas únicas plantações de chá da Europa, onde um chá muito especial é produzido. Independentemente da altura do ano em que viaje para o destino, visitar as suas plantações de chá é sempre uma opção a considerar, seja-se apreciador ou não. Passear entre os caminhos de uma plantação deste tipo é uma experiência mágica por si só, em que somos presenteados com o aroma leve e caraterístico do chá dos Açores-- é caminhar por um labirinto de cheiros e beleza.
Um pouco de História
A meados de 1800, a produção da laranja entrou em grande declínio, não encontrando o caminho de saída da espiral decrescente em que se encontrava. O resultado foi uma crise económica e social, tendo em conta que se exportavam milhões de laranjas por ano. O povo açoriano, como resiliente que é, de imediato começou à procura de uma cultura substituinte com potencial de se tornar numa nova fonte de rendimento-- novas espécies agrícolas como o chá, o tabaco, a batata-doce e o ananás foram introduzidas.
O clima da Ilha de São Miguel rapidamente provou ser o ideal para o crescimento da planta do chá, cuja cultura começava a deixar o povo esperançoso de novo. Contudo, os açorianos não eram especialistas em chá. De facto, este era inicialmente utilizado como uma planta meramente ornamental, até que o seu pleno potencial foi reconhecido. Dois especialistas da China, de onde o chá dos Açores é originário, foram chamados à ilha com o propósito de ensinar a população a cultivar e a tratar a planta. Acontece que, no pós I Guerra Mundial, com a crise e com as proteções aduaneiras do chá de Moçambique, 9 das 14 fábricas existentes viram-se obrigadas a fechar portas. Posteriormente, todas acabaram por cessar atividade, excepto a Fábrica de Chá da Gorreana. Enquanto que todas as outras trabalhavam com máquinas a vapor, esta produzia a sua própria eletricidade, tirando proveito de uma ribeira que se situa na propriedade. As primeiras sementes foram postas na terra em setembro de 1874, e em 1883 o primeiro chá Gorreana de sempre foi consumido.
A produção de chá tornou-se numa importante atividade económica cujo auge deu-se na década de 1950, quando as exportações atingiram as 250 toneladas. Apenas duas fábricas sobreviveram até aos nossos dias e abrem as suas portas a visitantes de todo o mundo: a Fábrica de Chá da Gorreana e a do Porto Formoso.
Fábrica de Chá da Gorreana
A Gorreana, fundada em 1883, é um negócio familiar e uma marca de renome mundial, conhecida pelo seu chá de primeira qualidade. O chá, ora verde ora preto, é 100% biológico e cresce em terrenos abrigados por montanhas altivas, longe de qualquer rastro de poluição e stress citadino. Sabia que as pragas comuns da planta do chá não sobrevivem ao clima húmido da Ilha de São Miguel? Ora bem. Assim sendo, nenhuma das duas fábricas sente a necessidade de utilizar pesticidas químicos nas suas plantações-- o clima é um repelente natural.
É a fábrica de chá mais antiga da Europa e nunca fechou portas desde a sua abertura. O resultado é um legado de 130 anos de comercialização de chá dos Açores para o mundo. A Fábrica da Gorreana é visitada por milhares de pessoas todos os anos e o Instagram é invadido por milhares de fotografias lá. Os visitantes passeiam felizes por entre a sua estimada plantação e visitam a fábrica e núcleo museológico, onde se pode observar a maquinaria Marshall de 1840 ainda em funcionamento. Atualmente, as plantações da Gorreana estendem-se por uma área de 32 hectares e delas são produzidas 33 toneladas de chá, maioritariamente exportado para Portugal Continental, Alemanha, Estados Unidos da América, Canadá, Áustria, França, Itália, Brasil, Angola e Japão.
Fábrica de Chá do Porto Formoso
O melhor de fazer o roteiro do chá nos Açores é que pode visitar as duas fábricas no mesmo dia e sem o transtorno da viagem, uma vez que ambas estão muito próximas. Aqui, na Fábrica do Porto Formoso pode, de igual forma, passear entre as plantações, visitar o núcleo museológico e loja e, ainda, usufruir de uma bebida na sala de chá ou na esplanada exterior. Laborou entre 1920 e 1980, e em 1998 foram iniciadas obras de requalificação no espaço. A grande reabertura foi em 2001 e é, hoje, em conjunto com a Gorreana uma das maiores atrações turísticas da ilha. Entre chá preto ou verde, também 100% biológico, as variedades oferecidas são: Orange Pekoe; Pekoe; Broken Leaf e Azores Home Blend.
No primeiro sábado de Maio, a Fábrica do Porto Formoso organiza uma atividade de recriação da colheita de chá, tal e qual como se fazia antigamente. Mais de uma centena de participantes, trajados a rigor, dão vida a este episódio etnográfico e recriam aquele que era o quotidiano das gerações anteriores. No final do dia, homens, mulheres e crianças brindam com uma chávena de chá e apreciam o pôr do sol de Primavera. Turistas também estão convidados a participar neste evento que, no fundo, visa relembrar os dias em que o chá era uma grande componente na vida económica e social das ilhas. O dia termina de forma acolhedora, ao sabor de uma chávena de chá e com uma fantástica vista fantástica panorâmica sobre os recortes da costa norte da Ilha de São Miguel.