Tradições Religosas dos Açores:
Porque tudo era castigo de Deus
As festas religiosas dos Açores têm origens antigas, numa época onde as catástrofes naturais eram vistas como um castigo de Deus. Para amenizar tais catástrofes, os açorianos deram início a ritos religiosos que se mantêm vivos até aos dias de hoje.
Para além das grandes 3 tradições religiosas que vamos dar a conhecer, nos meses do Verão todas as freguesias dos Açores realizam uma procissão em torno do Santo Padroeiro da sua terra. Portanto, para quem acha que o trânsito nos Açores são só vacas, engana-se! Algumas estradas fecham dentro das localidades para dar passagem ao Santo Padroeiro, que se faz acompanhar pelos locais e pelo som das bandas filarmónicas.
Festas do Divino Espírito Santo
As festas em honra do Espírito Santo ocorrem em todos as freguesias dos Açores, entre abril e junho. Cada ilha vive esta festa à sua maneira, mas em todas estão presentes as coroações ao domingo e momentos de ‘’comes e bebes’’ e convívio em torno do culto ao Divino Espírito Santo. A cidade de Ponta Delgada junta todas as suas freguesias para uma grande celebração conjunta. As Grandes Festas do Senhor Espírito Santo ocorrem na segunda semana de julho e juntam milhares de pessoas nas tradicionais sopas do Espírito Santo, distribuídas gratuitamente no Campo de São Francisco Xavier ao sábado de manhã. À tarde, realiza-se o cortejo etnográfico com carros de bois e grupos de cantadores, acompanhados por pessoas que distribuem massa sovada aos observantes. No domingo ocorre a Grande Procissão, que só é possível com a participação dos mordomos de todas as freguesias e pessoas que os acompanham durante a sua festa.
Senhor Santo Cristo dos Milagres
Ponta Delgada, em São Miguel, é a cidade que acolhe a maior festa religiosa dos Açores - as festividades do Senhor Santo Cristo dos Milagres, onde milhares saem à rua e muitos emigrantes regressam à sua terra natal. Reza a lenda que numa época de tremores de terra constantes, os locais decidiram fazer uma procissão para acalmar a ira da Natureza (seguindo a sugestão de Madre Teresa da Anunciada). De acordo com a tradição oral, ao descerem as escadas do Convento de Nossa Senhora da Esperança, um dos homens que carregava a imagem aos ombros tropeçou e, miraculosamente, a imagem tocou no chão sem se partir. Conta-se que a partir daí os tremores de terra pararam porque a imagem do Senhor Santo Cristo abençoou o chão, fazendo-os parar.
A partir daí, todos os anos se foi repetindo a mesma procissão, no quinto domingo depois da Páscoa. Ficou conhecida como a procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres e é a fé Nele que move a vida de muitas famílias açorianas. Os crentes pedem ajuda ao Santo Cristo para ultrapassarem os momentos mais difíceis da sua vida e, no sábado das festividades, caminham numa lenta procissão ao redor do Campo de São Francisco Xavier. Há quem opte por fazer a caminhada de joelhos e/ou descalços, enquanto carrega na mão velas que no final do percurso oferecerão à Igreja. No domingo, ocorre a grande procissão em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Este evento religioso congrega a população de todas as freguesias de São Miguel e atrai pessoas de outras ilhas, da diáspora e turistas.
Romarias
Na mesma época histórica (séc. XVI) e com o mesmo propósito tiveram origem as ‘’Romarias’’. Esta tradição nasceu em Vila Franca do Campo, São Miguel, na sequência dos terramotos de 1522 que soterraram o povo desta vila e seus pertences. Ergueram uma ermida em devoção a Nossa Senhora do Rosário (atual Convento de São Francisco) e, todas as quartas feiras, dirigiam-se lá em romaria. Com o passar dos anos tornou-se tradição que durante uma semana na Quaresma, homens e crianças dessem a volta à ilha, rezando e passando por todas as igrejas onde haja devoção à Virgem Maria e ao Santíssimo Sacramento. Enquanto caminham entoam o hino de Nossa Senhora, o Avê Maria. Uma semana de fé, onde se faz milhares de kms à chuva e ao vento. São claros os vestígios de cansaço quando estes homens chegam a casa, mas regressam de ‘’alma leve’’ - dizem.
Tradições destas não persistem em muitos outros lugares do mundo, mas nos Açores preserva-se o autêntico.